texto Christian Kittler
foto: Christian Kittler/Ativo
Ela não está catalogada em relatórios médicos, claro, mas informalmente começo a observar um número cada vez maior de atletas que sofrem da Síndrome do Ironman. O sintoma mais característico percebe-se numa rápida conversa: alguém que começou correr e pedalar faz três meses e já está planejando seu primeiro Ironman, que para quem não sabe é uma das provas mais duras do mundo, na qual o atleta, ininterruptamente, nada 3,8 km, pedala 180 km e corre mais uma maratona, ou seja, 42 km.Mas, qual o problema em traçar grandes desafios? Imagino que esta seja sua pergunta neste momento, e a minha resposta é: há muitos problemas quando não existe uma metodologia ou, pelo menos, coerência por trás do planejamento para essas competições endurance. O exemplo da Síndrome aplica-se também para aqueles corredores que mal começaram correr nas provas de 5 km e já fazem reserva para a maratona do próximo ano.
Ter desafios em mente é ótimo, porém, é preciso ter consciência que provas que exigem muito, como Ironman ou Maratona, requerem um tempo de amadurecimento do atleta. E não se trata apenas de condicionamento físico adequado, coisa que para essas competições você só adquire com experiência e disciplina. Ao pular ciclos perde-se principalmente o charme e o prazer de galgar etapas, e o resultado disso é o que pode haver de mais negativo: não há longevidade no esporte.
Conheço muitas pessoas que se adiantaram no timing esportivo e em apenas dois anos já eram ex-atletas. Não havia mais desafios, e pior, muitos estavam com lesões que por si só já encerravam as carreiras esportivas. Essa Síndrome é um pouco reflexo desses tempos de grande competitividade que estamos vivendo, hoje é preciso ser melhor em tudo, e rápido. Contudo, no esporte isso não funciona. E ele é, acima de tudo, um prazer. É preciso traçar planos a médio e longo prazo, colocando um tijolo por vez, caso contrário, qual será sua ambição depois de fazer um Ironman ou uma maratona em tão pouco tempo?
Eu fiz meu primeiro Ironman depois de 10 anos como triatleta, no Havaí, a “Meca” de todo triatleta, e completei a prova em 10h13min, um bom tempo para um estreante; mas o principal é que eu curti cada minuto da prova. Foi um sonho realizado. Depois dessa ótima experiência fiz outros 10 Ironman, e acrescentei daí outros desafios e objetivos, como fazer a prova em tal lugar, ou baixar meu tempo, e esses desafios somados a cada conquista é o bacana de ser esportista. Vá com calma e seja um atleta para toda a vida.
Christian Kittler é triatleta e CEO do Grupo Ativo.
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