segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Monte Castelo



“Só o tempo cura o queijo”, desejaram ensinar nossos avós. Poucos conseguiram, verdadeiramente, aprender este milenar ensinamento.

O conjunto Legião Urbana transformou em música um dos mais belos e singelos poemas de todos os tempos, escrito pelo poeta maior da língua portuguesa.

A poesia que sustenta a melodia entoada pelo Legião foi escrita nos idos do descobrimento do Brasil e sua transposição para os dias de hoje é comprovação de que a arte, quando consistente e inundada de qualidade, brinca com a linha do tempo, transforma passado, presente e futuro num único instante, um ponto indivisível da quarta dimensão.

Na realidade, a banda capitaneada por Renato Russo (Monte Castelo) entremeou trechos de Camões com outros de Paulo, o Aposto.

Aqui está o soneto de Camões:

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

A magnífica obra é de Luiz de Camões que, presumivelmente, nasceu em 1525, vindo a falecer no ano de 1580.

Camões revolucionou a poesia lírica portuguesa. A condição humana e o intrincado universo dos sentimentos são explorados de forma sutil, mas densa o suficiente para promover a reflexão filosófica.

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Monte Castelo
Composição: Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece...
O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói
E não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer...
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder...
É um estar-se preso
Por vontade
É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade
Tão contrário a si
É o mesmo amor...
Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade...
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...



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