quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Por que amamos cães, comemos porcos e vestimos vacas

Por  Anderson Santos
O Mercy for Animals teve a oportunidade de conversar com a dra. Joy sobre seu novo livro, veja aqui o que ela tem a dizer:


Em Por que amamos cães, comemos porcos e vestimos vacas você usa o termo “carnismo” em sua discussão sobre o porque nossa sociedade vê vacas, porcos e galinhas como comida enquanto roedores, cachorros e papagaio como de estimação. Pode explicar o que você quer dizer com “carnismo”?
Carnismo é o nome que uso para o sistema invisível de crença, ou ideologia, que nos ensina, do momento que somos desmamados, não sentir desgosto quanto a comer animais que nossa cultura considera “comestíveis”. Carnismo é essencialmente o oposto do vegetarianismo ou veganismo. Assim, uso o termo “carnista” para descrever aquele que come animais.

Normalmente, nos referimos aos carnistas como “onívoros”, “carnívoros” ou “comedores de carne”. Mas esses termos são inacurados e prejudicial aos direitos animais; eles reinforçam a suposição que comer animais é natural e normal, dois dos mais arraigados mitos usados para justificar o carnismo.

O termo “onívoro” e “carnívoro” descreve uma disposição psicológica, ao invés de uma escolha ideológica; um onívoro é um animal, humano ou não-humano, que pode ingerir tanto plantas ou animais e carnívoro é um animal que precisa ingerir carne para sobreviver. E o termo “comedor de carne” foca no comportamento de comer carne, como se fosse um ato à parte de um sistema de crenças quando se consome animais. (Perceba como não consideramos veg*s como “comedores de planta”.)

Em resumo, quando comer animais não é uma necessidade, é uma escolha – e escolha sempre tem raiz em crenças. A invisibilidade do carnismo, entretanto, faz comer animais parecer como se apenas os veg*s que trazem à mesa do suas jantar próprias crenças.

Em Por que amamos cães…, você descreve os mecanismos de defesa que os carnistas usam para se manter confortáveis em comer animais. Pode nos dizer mais sobre esses mecanismos?
A maioria das pessoas se preocupam com os animais e não querem que sofram. E mesmo assim a maioria das pessoas come animais. O carnismo precisa bloquear a atenção da pessoa entre a discrepância de seus valores e práticas, e faz isso usando uma série de mecanismos de defesa que funcionam tanto no nível social quanto psicológico.

O primeiro sistema de defesa é a invisibilidade e a primeira forma de permancer invisível é se manter sem nome: se não o vemos, não podemos falar sobre isso, e se não podemos falar sobre isso, não podemos questioná-lo ou desafiá-lo. Outro mecanismo de defesa é a justificativa; em meu livro descrevi o que chamo de Três Ns da Justificativa: comer animais é normal, natural e necessário. Não é de surpreender que esses mesmos argumentos foram usados para dar suporte a outras ideologias violentas. Os Tês Ns perde muito do seu poder quando são expostos como argumentos de defesa ao invés da verdade absoluta que a cultura carnística as apresenta.

Quais foram suas razões para escrever Por quê amamos os cães…?
Escrevi Por quê amamos os cães… para ambos carnistas e veg*s. Escrevi o livro para ajudar os carnistas a entenderem não simplesmentr porque eles não deveriam comer animais, mas porque eles comem animais, e ajudá-los a se sentirem convidados na conversação, ao invés de sentirem numa pregação. Escrevi o livro para os veg*s paras ajudá-los a ter embasamento, e mais capacitados a articular suas opções; para entender os carnistas nas suas vidas e comunicar mais efetivamente; e entender o sistema que estão trabalhando para transformar.

Que tipo de pesquisa você fez para escrever Por quê amamos os cães…?
Por quê amamos os cães… é baseado na minha pesquisa de doutorado sobre a psicologia de comer carne, para a qual entrevistei açougueiros, matadores, veganos, vegetarianos e carnistas. Eu também passei alguns anos anos após receber meu Ph.D pesquisando sistemas de opressão e estratégia de mudança social.

Se tal elaborado mecanismo de defesa é necessário para que as pessoas se sintam confortáveis comendo outros animais, por que mais pessoas simplesmente não se tornam vegetarianas?

Quando entendemos a profundidade e a largura do carnismo, podemos perceber que pedir a alguém que pare de comer animais não é simplesmente pedir por uma mudança de comportamento, mas um salto de consciência. Este tipo de salto não pode ocorrer até que a pessoa se sinta segura o suficiente para se mover para fora do sistema carnístico e olhar para o mundo com um par diferente de olhos.

Por que você acha que é importante para o movimento de direitos animais incorporar o conceito de carnismo na advocacia vegana?
Eu acho que é vital para o movimento fazer o carnismo o foco central de sua advocacia por várias razões chave.

Primeiro, ações públicas para os carnistas é fundamental para a advocacia vegana, nós temos que entender o que as pessoas estão tentando alcançar. Portanto, a princípio, assumimos os fatos que venderão a ideologia (“Se somente ao saberem da verdade sobre a produção da carne, ovos e leite, você nunca mais consumiria produtos animais novamente”) e falhamos ao perceber que há uma psicologia complexa que permite aos carnistas ignorar tais fatos.

E mais, o carnismo tem uma estrutura específica e se não compreendermos essa estrutura teremos grandes desvantagens; estamos lutando de olhos vendados contra uma entidade nunca vista. Na verdade, o objetico do movimento vegano não é simplesmente a abolição da produção de produtos animais, mas a transformação do carnismo – o sistema que faz tal produção possível, antes de tudo.

E finalmente, ao compreender que comer animais não é simplesmente uma questão de éticas pessoal, mas o resultado final de um intrínseco e profundo sistema de crenças, nós radicalmente mudaremos o que pensamos e falamos sobre o assunto.

*Foi usado veg*s para se referir tanto a vegetarianos quanto a veganos
Traduzido com permissão do blog da ong Mercy for Animals




Melanie Joy é uma psicóloga social, Ph.D, e autora do livro “Por que amamos cães, comemos porcos e vestimos vacas” (tradução livre, ainda não disponível em potuguês), que explora a ideologia por trás de comer carne e por que alguns animais são considerados de companhia, enquanto outros são considerados comida. A dra. Joy é professora de psicologia na Universidade de Massachussets, em Boston e tem estudado a psicologia do especismo há alguns anos.

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