sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Respiro, logo emagreço

By Marise Berg
A respiração é a função mais urgente do nosso complexo organismo. É ela que nos provê energia vital (prãna). Podemos passar dias sem comer ou beber, mas, cinco minutos sem respirar são suficientes para dar um curto-circuito irremediável no organismo. O prãna (elemento Ar) flui criando movimento, pulsação, vibração e vida. A palavra espírito tem origem no latim “spiritus”, que literalmente significa respirar.

A Ayurveda (que significa "ciência da vida") entende que somos compostos de corpo físico, mente e consciência. Mente e consciência são termos abstratos enquanto a respiração é uma realidade fisiológica concreta. O estudo da consciência começa com o estudo da verdadeira ciência de respirar. A ciência de controle do prãna é conhecida como prãnãyãma, uma das áreas da Hatha Yoga.

No último congresso de Ayurveda, realizado em agosto de 2010 em São Paulo, foi apresentado um trabalho do Hospital Patanjali Yogpeeth (Haridwar, Índia), mostrando os efeitos da prática de prãnãyãmas na regulação do metabolismo, favorecendo o emagrecimento.

Como assim?

A etapa catabólica do metabolismo é o conjunto de reações químicas que acontece nas células, responsável pela transformação dos nutrientes ingeridos pela alimentação em energia livre (ATP).

Esse processo é bem complicado e envolve um monte de reações químicas, estimuladas por 26 enzimas diferentes, um monte de Carbonos, Hidrogênio, Fosfato e co-fatores como o Magnésio e a Tiamina que interagem sequencialmente, ou seja, o produto de uma reação é utilizado como reagente para a reação seguinte.

Na ponta inicial dessa “fila” de reações encontra-se o nutriente (Glicose), e na ponta final, “puxando” essa cadeia de reações, encontra-se um elemento fundamental, o “guia” da excursão: o Oxigênio!

Tudo o que empobrece o fornecimento de oxigênio para o organismo enfraquece e desacelera o metabolismo: o sedentarismo, o cigarro, a poluição, a Anemia Ferropriva, o estresse (que altera o fluxo da respiração tornando-a peitoral e superficial), obstrução nos seios da face e doenças obstrutivas das vias respiratórias.

Tudo o que enriquece o organismo com Oxigênio contribui para o bom funcionamento do metabolismo: exercícios aeróbicos, pranayamas (exercícios respiratórios), respirar ar puro, controle do estresse, limpeza dos seios da face (Jala Neti ou Nasya) e – muito importante – a dieta.

Os pranayamas que mais estimulam o metabolismo são o Suryabheda (rejuvenescedor), Kapãlabhãti, Ujjãi e o Bhastrika. Esses exercícios são muito simples, mas tão poderosos, que só devem ser praticados com a supervisão de um mestre ou de um especialista. Essa prática é contraindicada em caso de pressão alta.

Além do Oxigênio, três componentes dos alimentos – uma vitamina e dois minerais – são fundamentais na manutenção do metabolismo: a Tiamina (vitamina B1), o Ferro e o Magnésio.

A Tiamina (B1) – vitamina do complexo B – está presente na casca do arroz integral, da aveia, no milho, ervilhas, gérmen de trigo, sementes de girassol, leveduras e algumas frutas e verduras como o abacaxi, manjericão e o espinafre.

O ferro é essencial para a formação das células vermelhas que “carregam” oxigênio por todo o corpo. Esse mineral também é parte de algumas enzimas que tornam a energia disponível. Encontra-se ferro em vegetais folhosos verde-escuros, espinafre, couve, beterraba, damasco, ameixa, feijão, grão-de-bico e tofu. A ingestão de Vitamina C potencializa a absorção do ferro de origem vegetal.

Encontramos o magnésio na água (pura e fresca), iogurte natural, na clorofila, no gérmen de trigo, aveia, chocolate, em nozes, sementes de girassol, amêndoas, brócolis, quiabo, acelga, soja, tofu, damasco, laranja, figo, uva passa e coco.

Parece muito simples, mas, assim como a prática de pranayamas, a escolha da dieta deve ser orientada por um profissional especializado.

Há milênios os sábios mentores da Ayurveda e a Yoga nos ensinam a ter a consciência de que somos o resultado da síntese dos alimentos físicos e energéticos que ingerimos (oxigênio e impressões sensoriais), fornecedores do material necessário para o processo metabólico que nutre a vida. Como podemos perceber, a Nutrição Clínica não discorda desse ensinamento, só usa outra linguagem e outros métodos para chegar às mesmas conclusões.

O sobrepeso é construído por fatores concretos e sutis, físicos e mentais. Lidar com essa condição não deve ser encarado como uma batalha a ser lutada sob a pena de nos tornarmos inimigos de nós mesmos e, em seguida, dos outros. Ao invés disso, podemos desenvolver a consciência para aprendermos a transformar as nossas dificuldades em amigos que estão se apresentando para nos ajudar. Eles nos dão oportunidades pra compreender profundamente as causas das nossas dificuldades. Somente a partir da consciência podemos trilhar a transformação na direção da boa forma, do prazer de viver e da paz.

Referências Bibliográficas
SILVA, Sandra. Tratado de Alimentação, Nutrição e Dietoterapia. Roca, 2007.
JOHARI, Harish. Breath, mind and consciousness. Destiny Books, 1989.
SWAMI TIRTHA, Sadashiva. The Ayurveda encyclopedia. AHC Press, 2007.

Marise Berg - Terapeuta Ayurvédica dedicada à prática da Alimentação Natural Ayurvédica e de Rasayana (rejuvenescimento). Formada pela Escola Yoga Brahma Vidyalaya – Fundação Sri Vájera e Ciymam (curso creditado pela International Academy of Ayurveda – Índia); com extensões em Rasayana (rejuvenescimento) pela Kerala Ayurvedic Chikitsalayam – Pune, Índia; em Ayurveda pela Vishwanath Panchakarma Centre – Rishikesh, Índia; e em Nutrição Ayurvédica pela International Academy of Ayurveda – Pune, Índia. Atualmente cursando a graduação em Nutrição no Centro Integrado São Camilo, São Paulo.



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