quinta-feira, 17 de junho de 2010

História do Ironman Brasil 2010

Minha história no Ironman Brasil 2010

Por André Veras
Inscrição feita em 18/06/2009. Número 736. Um pouco mais de 11 meses depois estarei na largada do Ironman Brasil 2010. Mudo de assessoria duas vezes para em janeiro de 2010 começar os treinos específicos para o ironman.
Começo os treinos de velocidade em janeiro, já que a base já tinha sido feita em novembro e dezembro. Me sinto forte e com uma evolução sem tamanho. Melhoro a cada dia. Para testar a velocidade, participo de um duathlon aquático no último dia de janeiro e me torno campeão geral da competição. Fico mais confiante ainda.
No começo de fevereiro começo a sentir uma dores de cabeça sem parar. Treino de bike do dia 04/02 (quinta) com muita dor de cabeça. Dia 06/02 (Sábado) vou nadar no mar e no meio do percurso sinto fortes dores na cabeça e saio direto para a terra. Dia 08/02 (segunda) vou para a emergência e depois de uma punção na medula é diagnosticado meningite. E agora? O que fazer? E os treinos? E o Ironman?
Fiquei 40 dias literalmente de cama. Durante esses dias várias voltas na emergência e uma infecção muito grande por causa dos remédios. Meus músculos praticamente atrofiaram. Não conseguia nem andar direito. Dor nos músculos e todas as articulações. Na alta do médico escuto dele: “Ironman será impossível para você. Coloque na cabeça que tem todo ano. Para você esse ano acabou.” Não preciso nem dizer que nessa hora comecei a chorar, mas estava disposto a não escutar o médico. Ia provar para ele que eu ainda era capaz de realizar meu sonho ainda esse ano.
Voltei aos treinos no dia 16/03. Estaca zero e apenas um pouco mais de 2 meses para o Ironman. Realmente seria muito difícil chegar no iron depois do que passei e em tão pouco tempo. Mas estava disposto a pagar para ver.
Dez dias depois da volta aos treinos, como já tinha feito minha inscrição no começo do ano, resolvi disputar o campeonato brasileiro de longa distância que seria realizado aqui em Fortaleza. Isso seria mais loucura do que fazer o próprio iron. Mas precisava fazer essa prova para fortalecer minha mente. Ela seria a minha maior aliada nesse pouco tempo que tinha. Posso dizer que foi uma das provas que mais sofri na vida. O calor aqui de Fortaleza chegava a 40º e vários atletas desistiam da prova, inclusive de elite. Estava disposto a ir até o fim, custe o que custar. Depois de 6h, 1h depois do meu tempo do ano passado, cruzei a linha de chegada completamente acabado, destruído fisicamente, mas com a cabeça fortalecida.
Enquanto todos já começavam a fazer corridas de 25, 30, 35 km e pedais de 130, 150, 180km, começava tudo novamente. Tracei um plano de fazer o treino de maior distância no dia do ironman. Então meu maior treino foi apenas um de 30km de corrida e um de 160km de pedal. Transições uma vez por semana com distâncias curtas. Meus treinos foram de recuperação, mais me deu um pouco mais de esperança.
Faço o último treino de corrida no dia 26 de maio pela manhã e ao meio dia parto para Jurerê Internacional com minha esposa e filha de apenas 3 anos. No outro dia ia esperar meu irmão Ricardo e amigo Henrique para dividir um apartamento vizinho ao evento.
Na quinta pego meu kit e fico pela feira. O resto do dia fico na varanda, maravilhado com tudo aquilo. Eram atletas treinando para todos os lados. Não faço nenhum treino.
Na sexta o dia amanhece chuvoso. Seria assim durante todo o dia. Quase ninguém nas ruas. O clima do evento desapareceu com aquela chuva. Também não tinha feito nada durante todo o dia. Resolvi então as 18h dá uma corrida. Depois de 1km sinto uma dor enorme na lombar. Dei um grito e paro instantâneo. Meu Deus, não estava acreditando. Tento voltar a correr e novamente a dor. Já estava difícil andar. Volto para casa, faço tratamento e descanso.
Sábado acordo ainda sentindo a dor na lombar. Mesmo com a dor resolvo fazer um giro de 10km de bike para ver como se comportava a dor pedalando. Não senti nada graças a Deus. A tarde levo a bike para o seu local, de onde sairia apenas no outro dia para fazer seus 180km. Resto do dia descanso total. Antes de dormir uma surpresa preparada pela minha esposa e cunhada. Um vídeo com vários depoimentos da família e amigos. Chorei muito de emoção. Não sabia que aquele vídeo iria ser muito importante no outro dia.
Domingo acordo as 4h30 da manhã para fazer a pintura do número, entregar o special nedds da bike e corrida e deixar a bike pronta. Volto para o apartamento para me aquecer. As 6h30 vou para o local da largada. Quase perto de chegar vejo que tinha esquecido o chip. Volto para pegar e sou praticamente o último a entrar na praia. Não encontro mais ninguém. Vou correndo me posicionar do lado mais a direita. Um pouco de confusão na largada por causa do posicionamento e a buzina é acionada.
Natação: Largo junto com a maioria e ao sentir a água gelada e o enorme número de atletas em cima de mim, tenho dificuldades de nadar. Pela primeira vez na vida entro em total pânico. Não consigo mais respirar direito. Tento parar e sou atropelado por vários atletas. Então tento continuar, mais está difícil. Não entra ar nos meus pulmões. Penso logo em desistir e vem na minha mente os depoimentos da noite anterior. Continuo passando muito mal e peço a Deus que me dê forças. Chego na primeira bóia onde tudo piora, pois todos atletas que estavam espalhados se juntam para contorná-la. Ao levantar a cabeça, por um dedo de Deus com certeza, vejo ao meu lado meu irmão Ricardo. Não acreditei. Ele nada muito mais que eu, eu estava lutando para poder nadar e respirar, e chego na bóia justamente ao seu lado. Bato nele duas vezes e nada dele olhar. Então dou um grito enorme e ele olha para trás dando um sorriso. Incrivelmente nessa hora passou tudo. Parecia que eu tinha descido naquele ponto para começar a nadar. Nado muito forte junto do meu brother praticamente até a praia. Finalizo a natação com 1h01min super bem no final. Faço a T1 bem tranqüilo e saio para o pedal.
Bike: Saio para pedalar muito forte. Até chegar a beira mar tenho uma média de 36km/h. Passo inúmeros atletas. Estou muito feliz. Já na volta na beira mar, a favor do vento, vou passar um atleta e ele contra-ataca e vai direto para a minha frente. Nesse momento uma staff em uma moto grita, pare. Pensei que tinha sido para o outro atleta e continuei. Ela fica do meu lado e pede para eu parar. Olhei para ela sem acreditar. Não acredito que ela iria cometer aquele erro comigo. Parei e fiquei esperando ela atravessar a rua para riscar meu número. Perca de precioso tempo. Quebra de ritmo. Tristeza total. Volto a pedalar desanimado e custo a voltar ao ritmo. Perto de chegar na volta dos 90km me sinto bem novamente e volto com força total. Entro na multidão empolgado tentando ver minha mulher e filha. Não consigo ver ninguém. Vou para o special nedds e grito pelo meu número. Passo tudo e nada de ninguém me entregar. Paro depois de todo mundo e fico perdido. O que fazer? Ir embora ou voltar? Não tinha gel suficiente para os outros 90km. Então voltei na contra-mão colocando em perigo quem vinha de frente. Parei no começo do special nedds e gritava para alguém me ajudar e nada. Depois de muito tempo parado alguém veio com minha sacola na mão. Tinha apenas 4 gels e 2 sanduíches. Saí completamente desolado. Mais uma vez foi difícil voltar ao ritmo. E o pior, ainda sabendo que iria perder mais 5min depois que entregar a bike. Então pensei: Não é possível que ainda venha acontecer alguma coisa comigo nesse pedal. E não é que aconteceu? Quando parava de pedalar percebi que a roda começava a frear. Então parei, desci da bike e tentei resolver. Não consegui. Resolvi continuar assim mesmo. Tinha que fazer muito mais força para manter o ritmo. E assim fui até o final. Finalizo a bike com 5h47 super cansado. Pelo menos tive a oportunidade de descansar nos 5min de penalização.
Corrida: Pedi a Deus na saída da corrida que desce tudo certo. Que todo problema tenha ficado na bike. Saio para correr super bem. Mero engano. Depois de 500m sinto a mesma dor na lombar de sexta-feira. Dou um grito de dor e paro na hora. Meus Deus, como ia correr 42km com aquilo? Então coloco a bacia para frente e como a dor era do lado direito, fico fazendo a compensação na perna esquerda. Funciona. Consigo correr sem sentir a dor aguda. Depois de 8km, por causa da compensação, minha panturrilha esquerda não agüenta. Paro novamente para alongar e a dor é grande. Alguém no meio da rua grita para mim: Você é um ironman, continue a correr que a dor vai passar. E foi exatamente o que fiz. Continuei a correr com uma dor enorme e fui testando as pisadas. Sentia menos dor pisando com o calcanhar e assim fui. De tanto pisar com o calcanhar meu tornozelo e minha coxa posterior começaram a doer. Meu Deus, que tanto sofrimento. Mas pensei: Ser ironman é assim mesmo. Todos sentem dores. Sabia que não seria fácil, tinha que continuar. Quando dei a volta dos 21km vi pela primeira vez, desde a largada, minha esposa e filha. Comecei a chorar e me enchi de forças para dá as últimas duas voltas. Sabia que a cada volta eu teria um combustível que era a presença delas. Na última volta não agüentava mais tomar gel. Resolvi passar para a pepsi e senti forte dores no estômago. Toda vez que tomava a pepsi meu estômago queimava. Então resolvi fazer toda a última volta apenas com água. Quando entrei em Jurerê Tradicional não lembrava mais das dores. Parece que sumiu tudo. Era tanta emoção por estar na reta final que parecia que estava fora de mim. Era como se eu tivesse me assistindo. Só vinha na minha cabeça o pensamento da chegada com meus maiores amores. As lágrimas caíam sem parar. Depois de tudo que passei, estava ali perto de ser um ironman. Perto da chegada peguei minha filha no colo e a mão da minha esposa e fui até o final do meu sonho. Cruzei o pórtico em 11h17min sentindo uma das maiores emoções da minha vida. Aquele momento está gravado na minha mente e não vai sair nunca mais. Isso com certeza ninguém pode tirar de mim.
Dedico essa prova principalmente para o meu irmão Ricardo que fez o seu segundo ironman em 10h27min. Muito obrigado pela orientação e ajuda em todos os momentos. Sem você, tudo teria sido mais difícil. Você foi meu anjo da guarda, principalmente na natação. E também para a minha esposa Tatiana, que teve que ficar muitas vezes sem a minha presença.
Então posso dizer para o meu médico: Eu sou um ironman …

Fonte: Mundo TRI
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Parabéns André!  Linda História!  Exemplo de Determinação e Superação

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