segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CARNE: comer ou não comer?

Uma perspectiva vegetariana e ambiental feita por uma um onívora (Vivian Federicci)




Os dilemas modernos do consumo de carne e as ações conscientes


São muitos os argumentos que defendem o não consumo de carne: saúde, ecologia, ética, econômica, religião.Entre os argumentos ecologicamente mais relevantes estão o desmatamento e emissões de CO2 provenientes da industria de carne e o sofrimento e morte dos animais.

O britânico Nicholas Stern, autor do Relatório Stern sobre a economia da mudança climática, encomendado pelo Governo do Reino Unido, declarou ao jornal The Times que a pecuária destinada ao consumo de carne representa “um desperdício de água e contribui poderosamente para o efeito estufa” (Folha).

São centenas de florestas e áreas de plantação devastadas para a criação animal. O resultado é ainda pior se pensarmos no sofrimento crônico dos bichos criados em confinamento. Esta reportagem exibirá os problemas dessa relação tão antiga que temos com os animais e que, talvez esteja na hora de ser repensada. Confira:
Perdendo a legitimidade
Visitando o sítio sob os cuidados de Seu Laércio, interior do estado de São Paulo, pude conhecer uma série de animais vivendo praticamente soltos. Galinhas ciscando e botando livremente. Porcos em cochos espaçados e patos, carneiros e vacas à solta no pasto. Porém, nem todos os animais tem essa mesma rotina.

A ARCA Brasil - Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal, em parceria com a Humane Society International – HSI (Sociedade Humanitária Internacional) desenvolve a Campanha pelo Fim do Confinamento Intensivo Animal.“Nós focamos a questão relacionada ao sofrimento ao longo da vida toda, em que o animal passa anos submetidos aos maus tratos”, afirma o gerente da Campanha da ARCA Brasil, Guilherme Carvalho.

Os animais que mais sofrem, atualmente, são os submetidos a confinamento intensivo. “As galinhas poedeiras, por exemplo, chegam ao ponto de não conseguir esticar as asas. Ficam comendo e botando ovos a vida inteira e quando a produção cai, são mandadas para o abate”.

Abate humanitário
Será possível haver algo de humanitário no abate?
A técnica que busca garantir todos os processos de bem-estar animal desde seu nascimento até o momento final tenta explicar que sim.

“Muitas ONGs trabalham com a política de não consumir, mas nós temos que ser realista e fazer algo porque as pessoas não vão parar de comprar carne”, explica o veterinário Roberto Roça, docente da Medicina Veterinária da UNESP de Botucatu e pesquisador do assunto.Inicialmente, abate humanitário era considerado a morte sem dor. Métodos estudados cientificamente evoluiram e indicam as condições de desenvolvimento, transporte e abate, reduzindo o sofrimento animal.

“Desde que um animal nasce você pode estar praticando formas de garantir o bem estar em condições favoráveis à espécie dele”, diz Roça.

Explicando os metódos, o pesquisador revela que “o animal deve ter sua fisiologia preservada, caminhar, correr, andar, beber aguá. O transporte deve ser menos traumático, com pessoas treinadas para isso e o abate deve ser sem dor e sem estresse”.
Clandestinidade
O grande problema da aplicação das técnicas humanitárias são os abatedouros clandestinos. Segundo Roberto Roça, “não é possível quantificar a clandestinidade, mas é certo que abate humanitário não existe nesses locais”.

Abatidos a marretadas e em condições de higiene duvidosas, o bem estar animal e humano se torna ameaçado.“Se tivesse uma fiscalização eficiente de combate a clandestinidade , nós conseguiriamos garantir proteção aos animais e também uma segurança para o consumidor em questão de saúde”, diz Roça.

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA, a Sociedade Mundial de Proteção Animal – WSPA Brasil e associações do setor produtivo, incluindo o projeto da Medicina Veterinária da UNESP de Botucatu, desenvolvem um Programa Nacional de Abate Humanitário desde abril deste ano.

O projeto ainda está no início, atua de forma efetiva no estado de Santa Catarina e tenta ampliar o uso das técnicas. “Nós treinamos uma equipe da WSPA que vai até os abatedouros e ensina os frigorífegos. O curso é gratuito e a ideia é que os novos técnicos sejam multiplicadores dessa situação”, afirma Roça.
Pouco conhecimento
O processo de humanizar o abate ainda é lento e o consumidor pouco conhece a situação. “No Brasil a maior precupação em garantir o bem estar animal gira em torno da exportação, porque a Europa e os Estados Unidos, por exemplo, exigem um protocolo de abate humanitário”, afirma o pesquisador Roberto Roça.

Segundo ele, na mesa do brasileiro o destino da carne é incerta, “no açougue todas as carnes são iguais, só os técnicos podem avaliar contusões e manejo inadequado”.

Para o vegetariano e gerente da Campanha da ARCA Brasil, Guilherme Carvalho “o consumidor tem que ter consciência de onde vem o que ele consome, o ovo não vem do supermercado e a carne não vem da geladeira. É importante saber essa procedência, pois os derivados (leite, ovos) também estimulam maus tratos”.

Vegan, ele afirma ter consciência de que, a curto prazo, é impossível que todos parem de comer carne. “A gente recomenda que o consumidor prefira carne, ovos e derivados de pequenas propriedades orgânicas. É muito melhor do que comprar de uma empresa com linha de produção intensiva e sem quaisquer cuidados de bem estar animal”.


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